segunda-feira, 29 de abril de 2013

É preciso usar moderação para compreender a língua portuguesa - Matéria Português - Dicas de Português - Língua Portuguesa



É preciso usar moderação para compreender a língua portuguesa

Muitos leitores que me questionam sobre o fato de frequentemente eu afirmar que determinada dúvida não se trata de um problema do tipo certo ou errado.

Em razão disso, vou reproduzir uma coluna já publicada aqui.

O primeiro destaque é o professor Walmírio Macedo, mestre a quem muito respeito. Tive a honra de merecer um fax que é um verdadeiro tratado sobre o ensino da nossa querida língua portuguesa.

Reproduzo aqui alguns trechos para que os leitores possam tirar suas próprias conclusões:

“Passou-se a defender que tudo é certo. O mal que esse tipo de colocação provocou no ensino da Língua Portuguesa no Brasil foi muito grande, pois criou um desinteresse geral pelos estudos da língua propriamente dita, colocando nas escolas no seu lugar o estudo de conceitos linguísticos. Infelizmente, isso causou um atraso. É bem verdade que vivíamos uma época de exagerado ensino gramatical, de ensino da gramática pela gramática. Mas a substituição foi pior. Graças às colunas de Língua Portuguesa, o interesse pelos estudos da língua parece retornar ou reavivar.

Não se pode nem se deve ser radical em nenhum campo da vida humana. Todo usuário da língua tem de se preocupar em conhecer os elementos mínimos que lhe ofereçam a opção de uma linguagem padrão oficial, geral. Como temos de usar determinadas roupas para determinadas ocasiões, temos de ter a nossa linguagem, a linguagem apropriada. Dessa forma, o conceito de correto e incorreto pode coincidir com o de adequado e inadequado.”

O segundo destaque é o nosso querido mestre Evanildo Bechara. Vejam o que ele disse a respeito do conceito de certo e errado:

“Até bem pouco tempo, a língua foi vista como um organismo homogêneo e unitário, e a linguística veio mostrar que não, que a grande característica da linguagem humana é a variedade, porque ela acompanha o homem e, como o homem não é igual numa mesma sociedade, a sua expressão linguística não pode ser igual. Então os linguistas procuram mostrar que a linguagem se caracteriza pela sua multiplicidade de realidades.

Então, o que é correto na língua? É tudo aquilo que está de acordo com uma tradição. Correto é tudo que está na norma de uma realidade. Ora, como na língua há diversas realidades, uma língua não é um sistema, é um conjunto de sistemas, cada sistema tem a sua norma. Se existe uma comunidade que diz “chegar em casa”, essa é a norma da comunidade; se existe uma outra comunidade que diz “chegar a casa”, essa é a norma.

Agora, em casa nós comemos peixe e carne com o mesmo talher, bebemos água e vinho no mesmo copo. Essa é a norma. Mas, se formos a um restaurante sofisticado, encontramos o copo de vinho, o copo de água, o talher de carne, o talher de peixe. O que isso significa? Isso significa que acima das normas, existe a etiqueta social. Então, o que é correto? A palavra correto já não serve. A palavra que se vai usar é exemplar. E o que é exemplar? Exemplar é aquilo que você, como pessoa de cultura, está condicionado a usar: “chegar a casa”; “faz dez anos”; “deram 10h”. Isso não é correto nem incorreto, é o exemplar. É aquilo que pessoas, através das gerações, escolheram como modelos exemplares. E onde está essa exemplaridade? Está nas boas gramáticas, nos bons dicionários, e no uso efetivo dos escritores modelares, nos escritores clássicos.”

Aqui estão as opiniões de dois grandes estudiosos da nossa língua.

Como todos podem observar, nada de radicalismos. É por isso que, sempre que possível, tento fugir do tradicional conceito do certo e errado.

Prefiro a moderação, o conceito de adequação. Isso não significa aceitar o “erro”. Isso significa analisar caso a caso, ter bom senso, ver que determinados fatos linguísticos podem ser adequados em certas situações, observar com mais atenção os casos polêmicos, estar atento às transformações da língua, ouvir os especialistas e ter a humildade de pedir a opinião dos seus leitores.

Em qualquer festa, um croquete bem feito tem seu valor.



CRASE?

Internauta quer saber se na frase “…sua competência aliada a forte dose de bom humor tem contribuído para melhorar meu desempenho profissional…” está faltando o acento da crase.

Ela pergunta: “em aliada a forte dose de bom humor, usa-se ou não a preposição?”

Há preposição, mas não ocorre a crase: “…aliada a forte dose de bom humor…”

A preposição “a” é exigência do adjetivo “aliado”: aquilo que está aliado está aliado “a” alguma coisa.

Não ocorre crase por falta do artigo definido feminino “a”. A tal “forte dose de bom humor” está usada num sentido genérico (= sem artigo definido). É como se fosse: “sua competência está aliada a uma forte dose de bom humor”. Repare na ausência de artigo definido, caso fosse um substantivo masculino: “…sua competência está aliada a forte empenho…”

Portanto, não ocorre a crase porque temos apenas a preposição “a”.



Avaliação técnica-econômica ou técnico-econômica?

O correto é “avaliação técnico-econômica”.

Quando temos um adjetivo composto, somente o segundo elemento se flexiona: “candidatos social-democratas”, “olhos azul-claros”, “questões luso-brasileiras”, “problemas político-econômicos”…


Fonte: G1 Dicas de Português 

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